Depois de, praticamente, dois anos de crise global que se seguiu a uma crise de demanda que já existia no Brasil, o turismo nacional busca se preparar para um 2022 bem melhor. O tema da retomada do turismo e como inovar para receber os hóspedes que hão de voltar no próximo ano, deram a tônica no 20º Encontro da Hotelaria – Edição Belo Horizonte, promovido pela Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), na Capital.


O assunto foi debatido com profundidade na apresentação “Cenário Atual e as perspectivas da hotelaria brasileira”, proferida pelo presidente da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (Adit), Caio Calfat; moderada pela presidente do Belo Horizonte Convention & Visitors Bureau (BHC&VB), Érica Drumond.


Para a empresária, buscar a inovação como forma de atender novos públicos é uma das maneiras de se preparar para uma retomada que deve acontecer mundialmente à medida que a vacinação avança e a Covid-19 é controlada.


“Temos que trazer a palavra inovação de volta para a hotelaria. Existem opções como o time sharing e a multipropriedade, por exemplo, que podem ser úteis para meios de hospedagem em todo o País. Temos visto também o crescimento dos resorts urbanos, para atender especialmente à demanda corporativa. O que não pode acontecer é continuarmos com tarifas que sequer cobrem os custos como acontece atualmente. Nenhum setor produtivo sobrevive assim”, pontuou Érica Drumond.


E foi, justamente, nos modelos de time sharing e multipropriedade que o convidado deu maior ênfase. Na multipropriedade cada proprietário tem um conjunto de direitos e deveres, assim como funcionaria em um condomínio. Porém, ao contrário deste, o imóvel não é dividido no quesito espaço, mas em tempo.


Já o timeshare funciona mais como uma prestação de serviço que o consumidor pode contratar. O Decreto nº 7.381/2010 diz que: “Considera-se hospedagem por sistema de tempo compartilhado a relação em que o prestador de serviço de hotelaria cede a terceiro o direito de uso de unidades habitacionais por determinados períodos de ocupação, compreendidos dentro de intervalo de tempo ajustado contratualmente”. Via de regra, as empresas prestadoras desse serviço possuem empreendimentos em diversos lugares. Assim, quando o cliente assina o contrato, ele adquire o direito de escolher qual das unidades espalhadas pelo País ou pelo mundo ele quer utilizar daquela vez.


“Esses são modelos que cabem perfeitamente para hotéis de diferentes portes e perfis. Mas é preciso ter coragem para fazer. Uma só propriedade pode comportar modelos diferentes de negócios. Se o empresário não quer perder o controle da propriedade, pode optar pelo time sharing em uma parte do imóvel e continuar com a venda normal de diárias no restante. É claro que para que todos os modelos sejam viáveis é preciso ter um empreendimento grande, mas isso deve ser avaliado caso a caso. O importante é abrir possibilidades”, explicou Calfat.


Os dois modelos prometem acabar com uma das maiores dores de cabeça de hoteleiros do mundo todo: a sazonalidade. Eles prometem ocupação regular ao longo do ano, facilitando a administração financeira do empreendimento e também do próprio destino, já que a arrecadação de impostos também seria distribuída.


“Para isso funcionar, o destino também precisa se preparar. Esse turista residencial tem característica de consumo de um morador. Ele decora a casa, vai ao supermercado, coisa que o turista convencional não faz. E, do outro lado, a cidade tem que oferecer estrutura para atender essa população que, embora mude de cara, não muda de número. É um turista fiel, que leva outros turistas convencionais e outros moradores para a cidade”, destacou.


Outro ponto importante, segundo o especialista, é reduzir a oferta de hospedagem nas cidades, especialmente naquelas que sofreram muito com a crise de demanda deflagrada em 2014, como no caso da capital mineira. Uma saída é dar outra destinação aos  imóveis, que podem ser transformados em residenciais, por exemplo.


“No Rio de Janeiro já foi aprovada a lei que permite que os hotéis sejam transformados em unidades residenciais, com ou sem serviços hoteleiros. Assim a gente tira do mercado o excesso de oferta, como em Belo Horizonte, para melhorar a performance dos que restaram. Esse é um passo pra trás pra começar a melhorar daqui pra frente. Tão importante como melhorar a ocupação e a diária média, é melhorar o desempenho local tirando o excesso de oferta. Isso está acontecendo, por exemplo, no centro de São Paulo. Assim estamos criando vida em uma região que estava se degradando, levando habitantes melhoramos toda a economia na região, inclusive para própria hotelaria”, avalia o presidente da Adit.




Fonte: Diário do Comércio.