O segundo Almoço-Conferência Vida Imobiliária de 2023 realizou-se no dia 6 de julho, uma iniciativa em conjunto com a Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários – APPII. Sob o mote “Desafios e perspetivas para o turismo português”, agentes do turismo avaliaram as principais perspetivas e desafios para o desenvolvimento da atividade turística em Portugal.
Os impactos negativos causados pela pandemia levaram a uma insegurança generalizada que afetou os indicadores do turismo a nível mundial. Todavia, o progresso impetuoso deste setor em Portugal no primeiro semestre, crescimento que já se vinha registar desde 2022, exterioriza que a pandemia é de facto um capítulo ultrapassado: o turismo está em níveis máximos e já ultrapassa números pré-pandemia.
O Almoço-Conferência Vida Imobiliária, em conjunto com a APPII, promoveu assim o encontro da indústria imobiliária, tendo o turismo como tema central, sem esquecer o segmento do imobiliário turístico. A iniciativa reuniu dois nomes de peso do panorama do turismo nacional para debater estes temas: Carlos Abade, Presidente do Turismo de Portugal, e Eduardo Abreu, Partner da Neoturis.
Setor do turismo quer "crescer em valor"
Carlos Abade, Presidente do Turismo de Portugal, enfatizou que o setor do turismo «quer crescer em valor» e com o «peso que o setor representa, queremos ajudar a economia nacional a crescer de uma forma sustentável». De acordo com os dados apresentados por Carlos Abade, em 2022, o peso relativo do turismo na economia aproximou-se dos valores pré-pandemia: no ano em questão, o consumo turístico/PIB foi de 15,8% (em 2019 era de 15,3%) e as receitas turísticas/exportações totais de 17,6% (em 2019 de 19,5%). As receitas no setor do turismo atingiram os 21,1 mil milhões de euros em 2022, superando em 20% o valor registado em 2019.
Aposta no mercado norte-americano
O presidente do Turismo de Portugal refere que «muito do trajeto que tem sido feito traduz-se em diversificar os mercados para Portugal: esta dimensão da diversificação de mercados permite-nos entrar em mercados de maior valor acrescentado e diminuir potenciais decréscimos que possam existir ao longo dos anos». Por exemplo, firma que «vamos continuar apostar, cada vez mais, no mercado americano, que tem tido um crescimento muito significativo».
O caminho que queremos seguir é de «transformar Portugal num dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis e reforçar o turismo como motor de crescimento sustentável: trabalhamos para melhorar a qualidade de vida das pessoas». Como referiu Carlos Abade, o setor «quer crescer em valor», mas não apenas em receitas: «queremos ver como pegamos neste valor (21,1 mil milhões de euros) e transformá-lo da melhor forma – em valor».
Assim sendo, «precisamos de ser mais eficientes, na forma como gerimos os territórios, cidades e empresas – o incremento de valor vai ser muito mais significativo». O presidente do Turismo de Portugal recordou o Plano Reativar o Turismo | Construir o Futuro onde se pretende atingir 27 mil milhões de euros de receitas turísticas, em 2027. De acordo com as previsões do Banco de Portugal, no boletim divulgado em março, as receitas do turismo em 2023 crescerão cerca de 15%.
Sustentabilidade e digitalização no turismo
«A sustentabilidade é um tema imperativo, um posicionamento e uma exigência do mercado, uma visão alargada em termos de coesão do território», assinala Carlos Abade, acrescentando que «temos de olhar para o território e a forma como gerimos da forma mais eficiente possível». No que toca à digitalização, refere que «é uma dimensão que tem evoluído a uma velocidade muita rápida» e que «o Turismo de Portugal tem desenvolvido um conjunto de formações para apoiar as empresas neste processo». Carlos Abade falou ainda do Programa PT2030, «o programa mais forte que nós vamos ter nos próximos anos, relativamente ao apoio às empresas».
No que diz respeito ao alojamento local, este tem tido um «papel importantíssimo na requalificação das cidades, bem como no crescimento do setor. É um tema que está a ser discutido. Só posso dizer isto: o AL de facto tem um papel fundamental», declarou o presidente do Turismo de Portugal.
"Estamos numa tempestade quase perfeita"
Nestes últimos anos, Eduardo Abreu, Partner da Neoturis, considera que «estamos numa tempestade quase perfeita: o preço médio dos estabelecimentos hoteleiros, para a mesma série, cresceu nos últimos 10 anos a 8% e 10% ao ano: a qualificação da oferta, o reconhecimento do país faz com que 10% ao ano, numa série já de 10/12 anos, seja uma taxa de crescimento muito interessante».
Recorda que «quando comparamos a oferta e a procura, percebemos que apenas em 2010 a procura começou a crescer mais que a oferta em termos anuais, e, de 2015 a 2022, manteve-se essa dinâmica», ou seja, «apenas nos últimos 10 anos há um crescimento da procura acima da oferta, de uma forma mais consistente». Neste sentido, «é possível crescer não só na taxa de ocupação, como também no preço médio dos preços praticados pela hotelaria, algo que faz com que as empresas cresçam e se multipliquem», salienta Eduardo Abreu.
Procura beneficia todo o território nacional
Nos anos 2000, 81% da procura verificava-se no Algarve, em Lisboa e na Madeira: «em 2022, este valor é apenas 65%», assinala Eduardo Abreu, destacando o crescimento do Norte, Centro, Alentejo, Açores nos últimos anos. Por outro lado, a procura está também a diversificar origem: «hoje, Portugal não está dependente do mercado inglês ou espanhol. Na última década, por exemplo, o mercado norte-americano cresce perto de 20% ao ano: EUA e Brasil são mercados em destaque». O reconhecimento de Portugal enquanto destino turístico «é inequívoco, atraindo investidores internacionais e operadores». O responsável destacou ainda o papel do setor na redução dos efeitos da sazonalidade.
Fonte: Vida Imobiliária.
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