“Os juros afetam menos os tomadores do mercado de baixa renda porque a formação de taxas vem do funding do FGTS e, por isso, temos recursos e taxas ” Luiz Antonio França presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras.


Os números mostram que a alta dos juros, de forma rápida e intensa, tem sido vista como um veneno para o mercado da construção. Isso é mais perceptível nos imóveis de menor valor. A economista e coordenadora de Projetos da Construção do FGV/Ibre, Ana Maria Castelo, fez as contas tomando como exemplo um financiamento de R$ 200 mil e demonstrou as dificuldades para o setor. Em primeiro lugar, a prestação aumenta. Segundo cálculos da economista, em outubro de 2020, quando os financiamentos custavam em média 8% ao ano, a prestação inicial era de R$ 1.381,77. Seis altas consecutivas na Selic depois, as taxas chegam a 8,99% ao ano. Apesar de o aumento não chegar a um ponto porcentual, o valor da prestação ficou 8,3% mais alto, em R$ 1.496,61.


A alta dos juros não encarece apenas as prestações. Para calcular os riscos do crédito imobiliário, os bancos consideram a renda mensal do comprador. Juros mais altos exigem uma renda maior. Ainda segundo os cálculos de Ana Maria, se a taxa subir de 8% para 8,99% a renda mínima exigida vai aumentar de R$ 5,89 mil para R$ 6,65 mil. A alta será de 12,9%, considerando que cada prestação pode representar até 30% da renda mensal.


A retomada de lançamentos após a pandemia contou não só com o crédito abundante, mas também com a folga de caixa das incorporadoras. Capitalizadas, elas puderam reduzir sua dependência dos bancos e financiar diretamente o comprador pelo menos durante o período de construção. A alta das taxas elevou os riscos deste momento de transição, segundo a economista da FGV. “As famílias que compram imóveis novos podem ter uma surpresa ruim na hora da entrega do apartamento com o repasse do financiamento em taxas mais elevadas”, disse ela.


“A tempestade perfeita às avessas que o setor imobiliário viveu na pandemia acabou” Eduardo Gianetti Economista.


BAIXA RENDA Nem tudo são problemas, porém. Quem pode injetar algum dinamismo nos canteiros de obra em 2022 é o mesmo que terá o orçamento mais comprometido pela alta da inflação e dos juros: a baixa renda. Para o presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras (Abrainc), Luiz Antonio França, a população menos favorecida tem demonstrado resiliência nas últimas crises. “Os juros afetam menos os tomadores do mercado de baixa renda porque a formação de taxas vem do funding do FGTS e, por isso, temos recursos e taxas.” E, a partir de 2023, haverá mais dinheiro disponível. Segundo o diretor de regulação do Banco Central (BC), Otávio Damaso, a implementação da última etapa das normas prudenciais do setor financeiro de Basileia III, prevista para 2023, deve liberar em até R$ 6 bilhões em exigências de capital dos bancos para a concessão de empréstimos imobiliários. “Será significativo”, o que vai beneficiar o setor, disse ele.



Fonte: IstoÉ.