Bilionário é um dos sócios do megaempreendimento de luxo Parque Global, na zona sul de São Paulo, junto com a Bueno Netto
A Related, empresa imobiliária americana, tem atualmente uma centena de projetos em desenvolvimento nos Estados Unidos e na América Latina. Juntos, eles somam investimentos de US$ 13 bilhões. É um império na incorporação que se deve ao seu fundador, o urbanista e bilionário Jorge Pérez.
Formado em urbanismo e conhecido como o rei dos condomínios de Miami, Pérez, 72 anos, é atualmente presidente do conselho do grupo imobiliário. Ele já iniciou o processo de sucessão na empresa. Seus dois filhos mais velhos ocupam respectivamente a posição de presidente e vice-presidente do grupo.
O executivo conversou com a EXAME Invest em recente visita ao Brasil para lançar a última torre residencial do Parque Global, megaempreendimento que está sendo construído na zona sul de São Paulo e tem valor geral de vendas (VGV) de R$ 11,5 bilhões. No projeto, a Related se associou ao grupo Bueno Netto. Pérez também veio ao país para participar da SP-Arte. Colecionador de arte, ele tem milhares de obras e um museu em Miami.
Na entrevista, Pérez comentou sobre a tendência dos megaempreendimentos na cidade, seus planos para o país, a parceria com a Bueno Netto e a volta das viagens dos brasileiros para Miami. Confira:
Os megaempreendimentos são uma tendência em São Paulo e no mundo? Qual o conceito que buscam trazer para São Paulo com a construção do Parque Global?
Somos conhecidos por não apenas construir prédios mas criar mini cidades, ambientes, comunidades.
Quando olhamos um projeto, antes de entrar nas especificidades de arquitetura e design, queremos saber se é ambientalmente sustentável, tem "caminhabilidade" e está perto de empresas e eixos de transporte. Apenas depois disso trazemos os melhores artistas, arquitetos e designers para participarem da concepção do empreendimento.
Cidades como São Paulo e Rio crescem rápido, sem planejamento. Vemos prédios a poucos metros um do outro, com muito poucas amenidades, particularmente ao ar livre. O que eles geralmente têm é uma pequena piscina e uma sala de ginástica. O espaço aberto é pequeno.
No Parque Global, a convite de Bueno Netto, que é um grande amigo e sócio, tivemos a chance de participar do design de uma comunidade. Optamos por criar um grande parque central entre as torres, onde os habitantes dos empreendimentos podem nadar, jogar tênis e caminhar com seus filhos em um ambiente seguro. São Paulo é uma cidade que tem poucos lugares abertos.
Teremos um shopping center ao lado do empreendimento com 8.000 metros quadrados, hospital, universidade e salas comerciais. Teremos também uma estação de transporte público. Faremos uma ponte, uma passarela e melhorias no parque linear [Bruno Covas] ao lado do rio. Dessa forma, dispensamos o uso do carro o tempo todo. Não queremos que as pessoas se escondam no empreendimento, mas que participem da cidade.
Buscamos parceiros de excelência, como o escritório Architectonica, que tem escritórios em Miami, Paris e Nova York. Chamamos também designers da Inglaterra, dos Estados Unidos e do Brasil. Para o ambiente aberto, buscamos o paisagismo de um escritório suíço. Queremos encher o empreendimento de arte. Cada torre terá uma grande obra de um artista brasileiro. Nos jardins, queremos ter instalações e vídeos.
A obra ficou embargada por muitos anos. O processo foi estúpido, frívolo. A defesa chegou a mostrar fotos que não eram do nosso terreno. Tivemos de batalhar em todas as esferas da Justiça. Ganhamos, mas gastamos milhões de dólares. Mas acredito que valeu a pena.
No que o Parque Global se diferencia de outros megaempreendimentos de São Paulo, como o Cidade Matarazzo?
A Cidade Matarazzo é um projeto excelente. Tem o hotel mais bonito do Brasil e talvez da América Latina. Presta atenção aos detalhes, à arquitetura, à arte e ao design. É incrível. Mas está inserido em um espaço urbano pequeno, de uma área muito desenvolvida. O preço que cobra pelos apartamentos é o dobro do Parque Global. São dois projetos bem diferentes.
Na região da Faria Lima, alguns condomínios cobram de R$ 40.000 a R$ 50.000 o metro quadrado. No Parque Global, estamos vendendo apartamentos por R$ 19.000 com muito mais amenidades do que qualquer outro.
Em Miami, venderíamos os apartamentos do Parque Global por três vezes mais o preço que vendemos em São Paulo. A cidade vai chegar lá, mas, por enquanto, relativamente, os preços estão muito baixos.
O senhor pretende fazer outros projetos na cidade?
Estamos olhando outros terrenos na cidade para comprar e construir: um deles na região da Faria Lima e outro bem próximo ao Parque Global. Mas eles precisam estar em uma localização especial, e é difícil encontrar um bom terreno em São Paulo.
Se encontrar outro terreno com uma localização como a da V-House [outro projeto da Related na cidade, 100% vendido, composto por apartamentos de long stay e operado pela JFL Living], farei outro projeto.
Acreditamos no Brasil no longo prazo e, consequentemente, em São Paulo, sua maior cidade. Infelizmente, existem mais flutuações na economia dos países da América Latina do que em outros locais do mundo.
Só faço negócios com quem gosto e confio. E (Adalberto) Bueno Netto é um parceiro e um amigo. Se tiver oportunidades de fazer outras parcerias com o grupo no Brasil, vamos fazer.
Como a covid-19 interferiu em seus projetos?
Durante a pandemia muita gente mudou de Nova York e Boston para a Flórida buscando locais abertos onde pudessem respirar. Espero que a pandemia esteja terminando, mas muitas pessoas ainda estão com medo do que pode acontecer. Portanto, esses espaços se tornam mais importantes agora.
Durante a pandemia vendemos muito. As pessoas entenderam que ter uma ampla vista, grandes sacadas e áreas abertas eram questões importantes. Um apartamento de 200 metros quadrados não é enorme. Então oferecemos espaços ao ar livre para festas, um jardim enorme. Nelas as crianças não vão ser atropeladas ou sequestradas e podem caminhar sem preocupações.
Quais as últimas tendências de seus projetos em Miami que atraem clientes brasileiros?
O mundo é pequeno. Todo mundo quer a mesma coisa. Investimos em casas automatizadas e sistemas de limpeza de ar em nossos apartamentos. Integramos eletrodomésticos e outros aparelhos. Queremos que os habitantes dos nossos condomínios tenham de fazer o mínimo possível em casa.
Nós vemos muitos brasileiros comprando apartamentos em Miami. São nossos principais clientes, além de argentinos e mexicanos. A cidade se tornou a capital das Américas. Se você tem dinheiro para comprar algo lá, você compra.
Estamos animados com a volta das viagens. Vamos continuar a fazer visitas ao Brasil para vender nossos projetos em Miami. Sabemos que os brasileiros amam a cidade. Metade dos colegas dos meus filhos na escola são brasileiros.
A Related também constrói moradias populares. Como é transitar entre os dois mundos?
Vendemos condomínios de luxo, apartamentos para a classe média, focados em aluguel. E também fazemos habitações populares.
Gostamos de construir casas de baixa renda. Apesar de não nos dar tanto dinheiro como condomínios de alta renda, vemos como um dever. Temos experiência de 40 anos no segmento e realizamos grandes parcerias público-privadas em cidades como Atlanta, Tampa, Phoenix e Jacksonville.
Fonte: Exame.
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